quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Astronauta japonês recomenda comunicação e rotina a mineiros

O astronauta japonês Soichi Noguchi, que passou seis meses no espaço, sabe muito bem o que são longas temporadas de reclusão e, em entrevista à agência EFE, recomenda que os 33 mineiros presos no Chile mantenham a comunicação e uma estrita rotina para superar a situação.

Noguchi lembra como foram difíceis os primeiros dias na Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês), quando ficou encerrado entre paredes cuja distância não passava de 4 m umas das outras, embora reconheça que a situação dos chilenos - presos na mina San José desde 5 de agosto - é especialmente complicada.

O engenheiro de voo japonês mostra sua solidariedade aos mineradores, aos quais chamou de "heróis" em seu perfil no Twitter, popularizado quando começou a enviar mensagens e fotos direto do espaço.

Como se fosse uma simples viagem de trabalho, Noguchi relembra seu dia-a-dia enquanto esteve recluso em pequenos compartimentos impermeáveis e ressalta que o mais importante em situações de isolamento é "manter a comunicação com a família e estabelecer uma rotina e um ritmo de vida".

"O apoio psicológico é muito importante, é preciso fazer com que os mineradores saibam que estamos com eles e ter uma boa comunicação", opina o astronauta da Agência de Prospecção Aeroespacial do Japão (Jaxa, na sigla em inglês).

Para Noguchi, as primeiras semanas na ISS foram duras, "mas quando a pessoa estabelece seu espaço e os ciclos de sono, comida e trabalho, fica muito mais fácil".

"Quando você consegue manter uma rotina, o tempo passa mais rápido. No final até pensei que poderia passar outros seis meses lá", relata o engenheiro, que compartilhou a Estação Espacial com outros cinco tripulantes durante 163 dias.

Os astronautas da ISS são submetidos a treinamentos físicos e psicológicos para suportar as extremas condições de confinamento, que para Noguchi começaram no dia 21 de dezembro de 2009 a bordo da Soyuz, nave russa apelidada de "lata de sardinhas", na base de Baikonur.

Especialistas da Nasa têm assessorado as autoridades chilenas a melhorar as condições dos mineradores para que possam superar a reclusão a 700 metros de profundidade.

Noguchi lembra que quando se está a 350 quilômetros da crosta terrestre a vida tem muito mais atrativos, sobretudo desde que a Agência Espacial Europeia (ESA, em inglês) instalou a chamada "cúpula", uma janela que possibilita uma vista panorâmica da passagem sobre a Terra a mais de 28 mil km/h.

A instalação de internet na ISS em janeiro deste ano foi outro avanço que fez a vida no espaço ficar mais fácil e permitiu que Noguchi se transformasse no cronista espacial mais famoso da rede, com cerca de 300 mil seguidores no Twitter.

As fotos e comentários postados na rede social despertaram grande expectativa, já que eram atualizadas quase diariamente e mostravam a Terra de uma perspectiva invejável.

"Muita gente inclusive não sabia que há uma estação espacial orbitando e astronautas vivendo ali em cima. As fotos tinham uma boa resposta das pessoas e isso foi uma grande motivação para que eu continuasse", lembra Noguchi ao ressaltar as vantagens de divulgação do Twitter se comparado a sites institucionais.

Do espaço, o astronauta mostrou alguns dos lugares mais belos da Terra, como o japonês Monte Fuji e a ponte Golden Gate de San Francisco (Califórnia), embora também tenha tido tempo para solidarizar-se, através de fotos, com lugares afetados por tragédias, como o Haiti após o terremoto deste ano.

A tripulação da ISS foi testemunha especial daquela catástrofe: "Após o terremoto, a cidade de Porto Príncipe ficou branca por conta das ruínas e se via claramente que estava devastada. O Twitter foi uma maneira muito efetiva de dizer 'Nossos pensamentos estão com vocês'".

No entanto, o astronauta sustenta que a coisa mais espetacular que viu do espaço foram as auroras austrais que se formam no Polo Sul e que define como "algo estranho, quase um organismo vivo".

A aurora austral foi uma experiência da qual quase 200 mil internautas foram testemunhas, e foi descrita com fotos e palavras tão evocadoras como as de uma de suas mensagens do espaço mais lidas: "Aurora, a lua e meu lar longe de casa".

EFE
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