sexta-feira, 3 de abril de 2009

Governo dos EUA quer revitalizar produção de satélites

Funcionários do governo em Washington estão trabalhando para revitalizar ainda outro setor da economia norte-americano que anda claudicando: a produção dos satélites de comunicação que flutuam em órbita da Terra e permitem que o planeta se integre como comunidade global.

Mas esse resgate talvez não custe centenas de bilhões de dólares aos contribuintes. Na verdade, poderia ser sair virtualmente de graça, caso os democratas do Congresso consigam suspender os controles de exportação que classificam a tecnologia de satélites como bélica, e vem prejudicando os fabricantes norte-americanos desde o final do governo Clinton.

A Câmara iniciará audiências sobre os controles na quinta-feira. Os defensores de uma mudança estão otimistas, e apontam para uma promessa de campanha do presidente Barack Obama, e para o apoio de figuras respeitadas como Brent Scowcroft, assessor de segurança nacional dos presidentes Gerald Ford e George Bush pai.

Mas a revisão do status de exportação não tem de forma alguma resultado garantido. Os argumentos de segurança nacional utilizados para impor os limites continuam a se fazer sentir entre os conservadores que acreditam que regulamentação severa seja necessária para impedir que a China e outros países roubem tecnologia sigilosa.

Desde que as regras entraram em vigor, em 1999, as complicações legais envolvidas na venda de satélites de comunicação comercial e seus componentes a outros países contribuíram para uma queda abrupta na participação de mercado das empresas norte-americanas, de quase 90% a cerca de 50%. A queda nas vendas coincidiu com uma reversão no balanço norte-americano de comércio tecnológico, que entrou no vermelho em 2002 e nunca mais saiu.

Agora, o novo governo convocou uma das principais proponentes de uma reforma nas restrições de exportação, a deputada Ellen Tauscher, democrata da Califórnia, presidente da Nova Coalizão Democrata, uma aliança centrista que conta com 67 parlamentares. Tauscher anunciou recentemente que deixaria a Câmara para se tornar subsecretária de Estado para controle de armas e segurança internacional ¿um posto crucial que comanda a burocracia das exportações de materiais sensíveis.

Antes da indicação, Tauscher disse que a questão era uma de suas prioridades. "Trata-se de um assunto altamente importante", ela declarou em entrevista. Mas alguns legisladores ainda hesitam em colocar satélites nas mãos dos adversários de Washington, especialmente Pequim. "No ambiente político em que operamos, a China é a questão crucial", disse Thomas Moore, especialista em exportações de tecnologia de satélites no Comitê de Relações Exteriores do Senado, durante uma conferência em Washington em novembro.

"Alguns senadores que sabem que a China testa armas no espaço não desejam ser acusados de lhe prestar qualquer assistência". Os defensores de um relaxamento das regras de exportação dizem que na verdade elas prejudicaram a segurança nacional, em lugar de protegê-la, e agrilhoaram um setor que no passado era visto como orgulhoso símbolo da capacidade de inovação norte-americana.

O primeiro satélite de comunicações a ser disparado para uma órbita geoestacionária foi criado por Harold Rosen, então engenheiro da Hughes Space and Communications, e foi lançado em 1964. Originalmente pequenos como uma banheira, alguns dos satélites mais modernos agora podem ter o tamanho de caminhões e custo da ordem dos US$ 200 milhões. No espaço, seus painéis solares se estendem por até 100 metros. Entre 10 e 30 deles são vendidos a cada ano.

De altitudes de 35,9 mil quilômetros, os satélites transmitem sinais por vastas distâncias, intermediando trilhões de telefonemas e conectando navios à costa e soldados às suas famílias. Eles enviam lições eletrônicas a escolas na África, transmitem ao vivo os eventos olímpicos para todo o planeta e respondem pela transmissão de programas de TV. Os satélites já foram definidos como forças silenciosas de promoção do desenvolvimento e dos valores democráticos.

Jonathan McDowell, astrônomo da Universidade Harvard que rastreia satélites, diz que os Estados Unidos construíram 428 dos aparelhos que foram colocados com sucesso em órbita-a vasta maioria. Um terço destes foram vendidos a outros países, que tipicamente utilizaram os modelos comprados como base para desenvolver seus próprios satélites.

Depois de 1984, quando um satélite norte-americano foi lançado por um foguete europeu, os lançamentos começaram a se internacionalizar, e isso originou o problema com a China, que oferece lançamentos a preço baixo em seus foguetes. Uma das principais questões sempre foi determinar se era possível confiar em que a China lançasse os satélites sem investigar o que continham.

Em 1999, depois de acusações de que empresas norte-americanas estavam assessorando os chineses em seus satélites militares, e não só de comunicações, os controles de exportação foram adotados por ordem do Congresso.

Em 2003, quando as exportações norte-americanas de tecnologia para satélites caíram a US$ 215 milhões, ante 1,05 bilhão em 1998, o Departamento do Comércio reportou que o balanço comercial de alta tecnologia dos Estados Unidos estava no vermelho pela primeira vez. Scowcroft, co-autor de um relatório sobre as exportações de tecnologia de satélites publicado em janeiro, diz que o governo deveria presumir que exportações de tecnologia são inofensivas a não ser que haja prova em contrário. "Nossa posição básica deveria ser a abertura", afirma.

Tradução: Paulo Migliacci

The New York Times

Nenhum comentário: