terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Cientistas criam cronograma de funcionamento do LHC

Prometendo compensar pelo tempo e dados perdidos, funcionários do CERN (Centro Europeu de Pesquisa Nuclear), próximo a Genebra, anunciaram um novo cronograma com o início das operações do Grande Colisor de Hádrons (LHC) previsto para setembro e funcionamento pelo período de um ano.

O novo plano, afirmam, vai garantir resultados físicos relatáveis no final de 2010. Mas quais resultados serão esses está a cargo da natureza.

A decisão do cronograma é uma boa notícia para físicos temerosos que os atrasos nos consertos após o acidente que desligou o colisor em setembro eliminariam as chances de obtenção de quaisquer dados ainda este ano.

O CERN normalmente desliga seus aceleradores de partículas no inverno para economizar os custos exorbitantes da eletricidade européia, mas os diretores do laboratório decidiram que a pesquisa física teria prioridade dessa vez. "A decisão de funcionar durante o inverno de certa forma nos tirou de uma enrascada", disse Lyn Evans, diretor do projeto de colisão.

O colisor, o maior do mundo, é projetado para acelerar, em torno de uma trajetória subterrânea de 27 quilômetros, partículas subatômicas conhecidas como fótons a energias de sete trilhões de elétrons-volt e então colidi-las em busca de novas formas de matéria e novas leis da natureza.

Setembro passado, cerca de uma semana após o alarde sobre os primeiros prótons circulando pelo colisor (e antes de começarem a colidir), um barramento elétrico entre dois dos imãs supercondutores da máquina vaporizou, resultando em um caos subterrâneo.

Durante seu primeiro ano de funcionamento, o colisor vai operar com cinco trilhões de elétrons-volt, ao invés do projeto original de sete trilhões de elétrons-volt, porque os imãs foram testados somente até esse nível. Isso ainda é o equivalente a cinco vezes a energia do segundo maior acelerador do mundo, o Tevatron, no Laboratório do Acelerador Nacional Fermi em Batavia, Illinois.

Muito tempo e energia serão dedicados a ajustar a máquina e os detectores gigantes de cinco andares, disse Dave Charlton da Universidade de Birmingham, que trabalha no detector Atlas no CERN. "Mas o novo plano de funcionamento por até um ano com poucas interrupções nos dá uma ótima chance de descobrir a nova Física em breve", disse.

A matéria escura, substância misteriosa que segundo astrônomos constitui 25% do universo, será um dos temas principais do primeiro ano.

Uma teoria muito popular, conhecida como supersimetria, postula a existência de uma categoria totalmente nova de matéria, conhecida como superpartícula. Nuvens destas podem ser a misteriosa cola gravitacional que mantém juntas as galáxias.

De fato, observações recentes de sinais de raios cósmicos anômalos por satélites e balões deixaram empiristas e teóricos animados com a possibilidade iminente de uma grande descoberta sobre a matéria escura.

A dificuldade é que ninguém conhece ao certo a massa dessas superpartículas. E as partículas em si não seriam detectáveis de forma direta no colisor. Então os pesquisadores precisam procurar por sua característica de "energia faltante" enquanto somam os fragmentos das colisões dos prótons.

Esforços para detectar essa característica acontecem há vários anos no Tevatron, até agora sem êxito. Mas com colisões de maior energia, empiristas afirmam que o novo colisor será capaz de produzir e confirmar facilmente partículas de matéria escura com massas de várias centenas de bilhões de elétrons-volt. Para comparação, a massa de um próton é de cerca de um bilhão de elétron-volt.

Se as superpartículas estiverem lá, disse Joe Lykken, teórico do laboratório Fermi e membro da equipe que comanda o detector Solenóide Compacto de Múons do CERN, os físicos poderão caracterizá-las "quase no momento da descoberta. Com sorte, isso pode acontecer até o final de 2010".

A busca por essa característica no colisor de hádrons, com detecção da partícula de Higgs que teoricamente imbui outras partículas com massa, provavelmente vai levar mais tempo, porque é mais difícil de ser realizada. Aqui também o Tevatron tem vários anos de dados acumulados, esperando compartilhar com o CERN parte da glória da descoberta.

"Tudo indica que a corrida vai ser disputada e muito emocionante", disse Charlton.

Colisor de Hádrons deve começar a funcionar em setembro

Colisor de Hádrons deve começar a funcionar em setembro

Amy Traduções

The New York Times

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