terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Cientistas elegem os 10 telescópios mais importantes do mundo

Não é preciso um grande espelho para causar grande impacto. O Sloan Digital Sky Survey, um projeto conduzido com um modesto telescópio com 2,5 metros de diâmetro no Novo México, executou as observações científicas mais citadas em 2006, de acordo com uma nova análise sobre os 10 observatórios astronômicos de maior impacto.

"A avaliação aponta a qualidade científica da contribuição do telescópio", diz Juan Madrid, da Universidade McMaster, no Canadá, sobre a lista de 10 telescópios mais influentes que ele vem compilando quase todo ano desde 1998.

"De certa forma, ela mede a competência do comitê que aloca tempo de observação, e a qualidade do telescópio. Também diria que mede a competência dos cientistas".

Entre os cinco melhores há outro telescópio modesto, o Swift, telescópio instalado em satélite que observa surtos de raios-gama. Os três outros postos são ocupados por gigantes da astronomia: o telescópio Espacial Hubble; os quatro telescópios de oito metros do Observatório Meridional Europeu, em Paranal, Chile; e os dois telescópios de 10 metros do observatório Keck, no Havaí.

A tabela mostra que os avanços tecnológicos de um telescópio podem levá-lo ao topo da lista, mas que a cultura e as limitações da instituição que o opera são importantes. No entanto, alguns astrônomos acautelam que o número de citações em trabalhos científicos é apenas um dos indicadores que deveriam ser usados na avaliação de valor.

"Creio que diversos fatores precisem ser considerados para determinar a importância de um observatório", diz Robert Williams, presidente eleito da União Astronômica Internacional e ex-diretor do Instituto de Ciências do Telescópio Espacial, em Baltimore, que opera o telescópio Hubble.

Mestres do universo
Madrid começou a montar seu ranking em 2001, quando trabalhava no instituto de telescopia de Baltimore. Naquele momento, o interesse político em reformar o Hubble era escasso.

O método dele foi avaliar os 200 estudos científicos mais citados de cada ano, desconsiderar os trabalhos teóricos, determinar que observatórios responderam pelos estudos restantes e calcular as citações. O mais recente ranking, aceito para publicação pelo Bulletin of the American Astronomical Society, se refere aos estudos mais citados em 2006, porque são precisos dois anos para que número considerável de citações sejam acumuladas.

O ranking sempre confere posição de destaque ao Hubble, que está entre os cinco mais a cada ano. Outros observatórios têm passagens notáveis pelo ranking por breves períodos e depois perdem o destaque. A Sonda Anisotrópica de Micro-Ondas Wilkinson, por exemplo, ficou em primeiro em 2003, depois do lançamento de seu importantíssimo mapa da radiação cósmica de fundo.

Em 2004, havia caído para o quarto posto. Mas, depois que seus dados já haviam sido explorados a fundo, a sonda perdeu destaque e não ficou entre os 10 mais em 2006.

Já o Sloan Digital Sky Survey está em alta, liderando o ranking em 2004 e 2006 (Madrid não publicou um ranking quanto a 2005). O trabalho do observatório ajudou a deslindar a estrutura da Via Láctea e a averiguar indiretamente o efeito da energia escura sobre a expansão acelerada do universo, diz David Weinberg, da Universidade Estadual do Ohio em Columbus, um dos astrônomos que coordenam o trabalho do observatório.

Vencedores e derrotados
Alguns astrônomos expressaram abertamente suas dúvidas quanto a algumas ausências conspícuas na lista dos 10 mais, entre as quais a do observatório Gemini, que opera com dois telescópios de oito metros, um no Havaí e o segundo no Chile.

Timothy Beers, da Universidade Estadual do Michigan em East Lansing e presidente do comitê científico do Gemino, aponta para o fato de que os telescópios do observatório foram projetados mais para observar a banda infravermelha do que a visível do espectro, e por isso recebem pedidos de trabalho de uma proporção menos da comunidade científica.

"Eles não foram concebidos como telescópios de propósitos gerais", disse Beers. "E isso é um problema quanto ao ranking". Na ausência de gama mais ampla de instrumentos que permitam observar porção mais larga do espectro, Beers diz que muitos cientistas tendem a optar por outros observatórios.

Outra questão, ele diz, é o controle sobre a alocação do tempo de observação sempre limitado. Telescópios controlados e operados por instituições privadas, como o observatório Keck, podem dedicar muito tempo a pequenos grupos de cientistas que trabalham com os tópicos mais suculentos.

O Gemini, um consórcio público que representa sete países, tem sete comitês diferentes de alocação de tempo. Isso torna mais difícil organizar campanhas longas e unificadas - ainda que Beers reconheça que os conjuntos de dados mais amplos obtidos de campanhas longas tendam a propiciar ciência de mais alto impacto.

Mas a maioria dos astrônomos considera que o indicador oferecido pelo número de citações é apenas uma de muitas maneiras de medir a eficiência de um observatório. Outras incluiriam a produção geral de estudos científicos e o número de pedidos de observação comparado ao de trabalhos de observação realizados.

"Minha opinião geral é que essa mania das citações foi exagerada ao absurdo", diz Weinberg. "Mas esse indicador faz diferença? Creio que sim, especialmente no momento de tentar arrecadar fundos".

E assim Weinberg fez questão de apresentar os rankings referentes a 2004 ¿e a liderança do Sloan Digital Sky Survey- ao pedir por uma prorrogação de seis anos na operação do projeto. O programa conquistou US$ 99 milhões em verbas da Fundação Nacional de Ciências dos Estados Unidos, na metade do ano passado.

"Que impacto o ranking exerceu sobre os jurados e os diretores de programas da fundação? Não posso dizer. Mas decerto exerceu algum impacto, como bem deveria".

Imagem da Galáxia Whirlpool feita pelo telescópio Sloan Digital Sky Survey

Imagem da Galáxia Whirlpool feita pelo telescópio Sloan Digital Sky Survey

The New York Times

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