sábado, 10 de janeiro de 2009

Choque de cometa pode ter gerado gêiseres em lua de Saturno

O impacto de um cometa, ocorrido há milhões de anos, pode ter ajudado a desencadear os acontecimentos que criaram os gigantescos jatos, similares a gêiseres, de Encélado, lua glacial de Saturno, disseram cientistas em dezembro. A descoberta se deu por meio de fotos tiradas em vôos recentes à lua da nave Cassini da Agência Espacial Americana (Nasa).

"Esses dois vôos, em agosto e outubro, tinham como alvo lugares específicos nas regiões de onde vinham os jatos," disse Carolyn Porco, do Instituto de Ciência Espacial de Boulder, do Colorado, e líder da equipe de imagens da nave Cassini.

Os vôos de curta distância deram aos cientistas as imagens mais detalhadas até agora das "listras de tigre" da lua, longas rachaduras conhecidas por serem fontes dos jatos.

Centros de expansão
As novas fotos revelam um terreno fraturado notadamente similar à dorsal oceânica da Terra, disse Paul Helfenstein, da Universidade Cornell, em um encontro do Sindicato Americano de Geofísica em São Francisco, na Califórnia.

Na Terra, a dorsal submarina representa "centros de expansão" onde a crosta está se fraturando, permitindo que o magma chegue à superfície. Diferentes da solitária dorsal oceânica terrestre, as listras de tigre aparecem como linhas mais ou menos paralelas. Elas são, inclusive, entrecruzadas por traços que se assemelham às falhas geológicas que separam a dorsal oceânica em blocos.

A descoberta dessas falhas entrecruzadas "foi o primeiro indício de que algo como uma expansão poderia estar acontecendo em Encélado," disse Helfenstein. Para testar a idéia, ele criou um modelo de computador no qual as listras "deslizavam" para perto das outras ao longo das falhas geológicas. Alguns blocos da crosta, ele acrescentou, parecem ter deslizado até 73 km de seus locais de origem.

Ao fazer isso, ele constatou que muitas características aparentemente aleatórias do terreno tinham ligação. Algumas cumeeiras curvas, por exemplo, inesperadamente se encaixavam, formando um amontoado que se parecia com a superfície saliente de um diapiro, uma intrusão de rocha plástica que desponta nas camadas mais frágeis acima dela.

Carolyn Porco observa que a descoberta da "expansão" é mais um sinal de que Encélado possui um nível de atividade geológica que parece exigir a presença de água líquida sob o terreno do pólo sul. "Estamos cada vez mais confiantes de que é praticamente impossível explicar o que vemos em Encélado sem que haja água líquida em algum lugar internamente," disse ela.

Gelo flutuante
O estranho domo situado sobre o que parece ser a mais antiga das listras de tigre pode ser um indício importante do que colocaria o jato em movimento, disse Helfenstein. Se for o topo de um diapiro antigo, o domo pode marcar um lugar onde gelo aquecido ou até mesmo água líquida ascenderia a partir de um local mais profundo da superfície de Encélado.

Talvez esse processo tenha sido iniciado por um impacto na superfície. Um impacto de cometa, por exemplo, pode ter enviado ondas de choque que repercutiram a partir do núcleo da lua e criaram fraturas na superfície e uma região quente abaixo dela.

Uma vez aquecida, mais energia poderia ter sido gerada através das marés causadas pela atração de Saturno sobre a lua de 480 km de diâmetro, fazendo com que os blocos fraturados da crosta entrassem em fricção.

Tal processo poderia não apenas ter possibilitado os jatos, mas também produzido calor suficiente para fazer com que a crosta começasse a se expandir. O novo anúncio, no entanto, está longe de ser a palavra final sobre Encélado e seus jatos épicos. "É uma hipótese. Temos que pensar com cuidado sobre como testá-la ou até mesmo se é testável", disse Helfenstein.

Os vôos de curta distância deram aos cientistas as imagens mais detalhadas das longas rachaduras conhecidas por serem fontes dos jatos
Os vôos de curta distância deram aos cientistas as imagens mais detalhadas das longas rachaduras conhecidas por serem fontes dos jatos

Tradução: Amy Traduções

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