sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Vaticano homenageia Galileu pelo Ano da Astronomia

O Vaticano considera que, após a reabilitação de Galileu Galilei por João Paulo II, em 1992, os tempos "estão maduros" para uma nova revisão de sua figura, "a quem a Igreja deseja honrar", disse o arcebispo Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício para a Cultura.

Ravasi fez a afirmação durante a apresentação no Vaticano das iniciativas previstas pela Santa Sé durante o Ano da Astronomia e o Congresso Internacional sobre a figura de Galileu Galilei, nascido em 1564 e morto em 1642. O evento será realizado em Florença, na Itália, de 26 a 30 de maio.

O arcebispo disse que o Ano da Astronomia, convocado pelas Nações Unidas para comemorar os 400 anos das primeiras descobertas astronômicas, representa, para a Santa Sé, uma ocasião importante de aprofundamento e diálogo sobre a astronomia e a figura do astrônomo toscano.

"Galileu foi o primeiro homem que olhou com um telescópio para o céu. Abriu para a humanidade um mundo até então pouco conhecido, ampliando os confins de nosso conhecimento e obrigando a reler o livro da natureza com um novo olhar. A Igreja deseja honrar a figura de Galileu, genial inovador e filho da Igreja", ressaltou Ravasi.

O religioso acrescentou que os "tempos estão maduros" para uma revisão da figura de Galileu e de todo o Caso Galilei. Ele também lembrou que, no Concílio Vaticano II, ao se referir ao cientista toscano, "rejeitou certos comportamentos mentais, que não faltaram entre os cristãos, derivados de não se dar conta suficientemente da legítima autonomia da ciência".

Ravasi lembrou quando, em 1981, João Paulo II criou a comissão para examinar o Caso Galileu. O arcebispo ressaltou ainda "a coragem" dessa comissão de "reconhecer os erros dos juízes de Galileu", que, incapazes de separar a fé de uma cosmologia milenar, acreditavam que a aceitação da revolução copernicana faria vacilar a tradição católica e, portanto, era um dever proibir essas doutrinas.

Ravasi acrescentou que, "por esse erro subjetivo de julgamento", Galileu "teve que sofrer muito". "Hoje, em um clima mais sereno, podemos olhar à figura de Galileu e reconhecer o crente que tentou em seu tempo conciliar os resultados de suas pesquisas científicas com os conteúdos da fé cristã. Por isso, Galileu merece hoje todo nosso apreço e gratidão", destacou o arcebispo.

Por ocasião destas comemorações, o Vaticano planeja reeditar as atas do processo contra Galileu Galilei para lembrar que o papa Urbano VIII nunca assinou a condenação da Inquisição ao cientista italiano, segundo disse recentemente Ravasi.

Entre as iniciativas, destaca-se o seminário que será realizado em 26 de fevereiro na Pontifícia Universidade Lateranense de Roma sobre "1609-2009 - 400 anos de Sidereus Nuncius de Galileu". De 26 a 30 de maio, ocorrerá em Florença o seminário internacional de estudos O Caso Galileu. Uma releitura histórica, filosófica, teológica", organizado pelo Instituto Stensen dos Jesuítas.

Já de 21 a 26 de junho haverá um curso de estudos organizado pela Specola Vaticana (Observatório Vaticano) desde 1986, e durante todo o mês de outubro estará aberta na Santa Sé a exposição "Galileu 2009, Fascinação e Fadiga de um novo olhar sobre o mundo. A 400 anos da primeira observação com telescópio".

Enquanto isso, de 15 de outubro a 5 de janeiro de 2010 será exibida nos Museus Vaticanos a exposição "Astrum 2009: o patrimônio histórico da astronomia italiana de Galileu até hoje", que incluirá livros, arquivos e instrumentos procedentes da Specola Vaticana e dos Museus Vaticanos. A exposição incluirá ainda o manuscrito Sidereus Nuncius, de Galileu, conservado na Biblioteca Nacional Central de Florença.

Galileu Galilei foi condenado pela Inquisição por ter aderido à teoria de Copérnico, que sustentava que o Sol, e não a Terra, era o centro do Universo, contrariando tudo o que se pensava na época. Em 31 de outubro de 1992, aos 350 anos de sua morte, João Paulo II o reabilitou solenemente e criticou os erros dos teólogos da época que respaldaram a condenação, sem desqualificar expressamente o tribunal que o sentenciou.

Em discurso de 13 páginas lido na Sala Régia do Palácio Apostólico, o papa João Paulo II o qualificou de "físico genial" e "crente sincero", "que se mostrou mais perspicaz na interpretação da Escritura que seus adversários teólogos".

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