quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Especialistas questionam planos espaciais tripulados dos EUA

Os projetos de exploração espacial tripulada dos Estados Unidos foram severamente questionados depois que uma comissão de especialistas considerou que o dinheiro previsto e as tecnologias atuais são insuficientes para conquistar Marte com um risco aceitável.

De acordo com as conclusões preliminares da comissão de especialistas criada pelo presidente Barack Obama, um retorno de astronautas à Lua para 2020 é impensável sem os três bilhões de dólares adicionais por ano para se construir um novo lançador. "O programa espacial tripulado que temos hoje não é realmente realizável com o dinheiro de que dispomos", declarou o presidente da comissão, Norman Augustine, em uma entrevista concedida esta semana à rede PBS.

"Ou modificamos o programa atual, ou gastamos mais para ter algo interessante e que funcione", acrescentou, ressaltando que "o desafio para a Casa Branca será escolher". A Nasa dedica cerca de US$ 10 bilhões, dos US$ 18 bilhões de seu orçamento anual, para seus programas de voos tripulados: os ônibus espaciais e o desevolvimento de seus sucessores, o foguete Ares 1 e a cápsula Orion.

No atual estado das coisas, a manutenção da Estação Espacial Internacional (ISS) - praticamente concluída - é o único projeto viável até 2020, segundo os especialistas. Mas os Estados Unidos não terão meios para transportar seus astronautas para a ISS depois de 2010, quando está prevista a aposentadoria da frota de ônibus espaciais. Dependerão dos Soyuz russos até pelo menos 2015, quando se espera que o Ares 1 e a Orion estejam preparados para voar.

A Nasa conta também com o desenvolvimento de foguetes comerciais para manter um serviço de transporte para a ISS. O relatório será apresentado oficialmente no dia 31 de agosto, mas suas conclusões já foram divulgadas no site da comissão. Norman Augustine, ex-presidente do grupo Lockheed Martin, já informou a Casa Branca a respeito dos resultados na sexta-feira passada.

Pouco depois de sua chegada em janeiro, Obama criou essa comissão para estudar o programa espacial lançado por seu antecessor, George W. Bush, em 2004. Esse programa prevê o retorno à Lua antes de 2020, como preparação para uma viagem para Marte e para mais além.

Norman Augustine indicou que a comissão oferecerá quatro grandes opções para o presidente Obama. Indicou também que, embora Marte seja a longo prazo "o lugar lógico" para enviar astronautas, atualmente, há outros lugares mais acessíveis também dignos de interesse, como alguns asteróides.

Mas Augustine se referiu também aos desafios técnicos. Frisou que os efeitos das radiações cósmicas sobre o organismo humano durante longos períodos são desconhecidos, ao destacar que uma viagem de ida e volta ao planeta vermelho levaria cerca de 260 dias, mais provavelmente uma estadia de um ano no lugar. Segundo John Logsdon, ex-diretor do Space Policy Institute, da Universidade George Washington, a Casa Branca poderá levar meses para decidir o que fazer. Considerou, apesar disso, que o trabalho da comissão é "saudável".

"Herdamos uma das numerosas promessas vazias do governo Bush, que havia elaborado um grande programa de voos tripulados, mas sem conceder os recursos para concretizá-lo", disse. "Vivemos assim uma ilusão durante cinco anos", acrescentou o especialista.

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