quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Buzz Aldrin: "robôs podem criar base na lua de Marte"

Edwin Eugene "Buzz" Aldrin Jr, piloto do módulo lunar Eagle da missão Apolo 11 e segundo homem a pisar na Lua, chegou terça-feira ao Brasil. Há 40 anos, em julho de 1969, Aldrin e Armstrong passaram 21 horas na superfície lunar. Buzz Aldrin, que está de passagem rápida pelo Brasil, conversou nesta terça-feira sobre a "magnífica desolação" da Lua e o futuro das explorações espaciais.

Qual a sensação que o senhor teve ao pisar na Lua? Como era a Terra vista de lá?
Da Lua, a Terra era quatro vezes o tamanho de uma lua cheia vista da Terra. Era uma joia brilhante no céu de veludo. No entanto, estava a uma grande distância, o que nos fazia pensar nos desafios da viagem de volta. Devido à radiação do Sol, nenhuma estrela era visível. Usei a frase "magnífica desolação" para descrever a superfície da Lua assim que voltei para a Terra e acho que resumi bem o que senti naquele momento.

Com isso, queria traduzir a magnificência da façanha do ser humano de chegar ao espaço, mas também revelar a Lua como a vimos, um lugar desolado que não havia mudado em centenas de milhares de anos. Passamos duas horas numa escuridão gelada, sem água ou ar. Tudo era muito seco.

Qual a importância de se ter encontrado água na Lua?
Não fiquei surpreso com o fato de terem descoberto água na Lua e não acho que isso seja tão importante quanto se pensa. Há mais de 30 anos suspeitávamos que resquícios de cometas que colidiram com a Lua estariam preservados dentro de crateras escuras do satélite, que não são expostas a raios de sol.

Certamente, sabíamos da grande possibilidade de essas crateras geladas conterem a água congelada dos cometas e, de fato, muitas missões já haviam confirmado isso. Acho que a missão recente da Nasa confirmou o que todos já sabiam. De todo o modo, a existência de água na Lua não vai fazer com que haja uma multidão querendo ir para lá. Ninguém quer morar na Lua.

Então, como o senhor vê o projeto da Nasa de estabelecer uma base permanente na Lua a partir de 2020?
Não acho que EUA e Nasa deveriam investir seus recursos levando astronautas norte-americanos de volta à Lua para estabelecerem bases lá. Por termos sido os primeiros a pisar na Lua há 40 anos, temos experiência e liderança e acho que devemos usar isso para ajudar outros países a chegarem até lá. Enquanto isso, os EUA devem investir na robótica.

Hoje, com robôs operados remotamente podemos fazer muitas das coisas que astronautas fazem, mas a um custo muito mais baixo. Hoje podemos controlar robôs com um tempo de resposta de apenas um segundo e meio. Acho ainda que devemos reservar nossos recursos para uma missão que vá além da Lua, para outros planetas, ou que permita que aterrissemos em alguns asteróides durante breve excursões.

Podemos fazer isso primeiro e eventualmente estabelecer uma base em Fobos, uma das luas de Marte. Acho que poderemos estabelecer bases robóticas em Fobos até 2022 e ocupá-la entre 2025 e 2029. Isso nos permitirá criar uma infraestrutura para astronautas em Fobos a partir de 2031, com a possibilidade de começar a habitá-la em 2035, o que permitiria excursões frequentes a Marte, uma das mais importantes fronteiras a ser explorada agora.

Qual sua expectativa e o objetivo de vir ao Brasil?
Vim a Campos (no Norte do Estado do Rio) conversar com alguns astrônomos sobre as missões Apolo e fazer uma apresentação aos estudantes sobre minha visão para o futuro da exploração espacial. Estou muito contente de poder voltar ao Brasil, mesmo que seja numa viagem curta.

Já visitei Rio, São Paulo, Brasília e Manaus, onde cheguei até a pescar no rio Amazonas e dormir num hotel sob palafitas. Naquela mesma viagem, fui até São Luís, onde visitei a plataforma de lançamento de foguetes em Alcântara. Estou muito feliz de estar de volta.

Quando prevê a publicação aqui no Brasil de seu livro de memórias recém-lançado nos EUA, "Magnífica desolação"?
Não tenho previsão ainda, mas gostaria muito de publicá-lo aqui e encorajo aqueles que queiram traduzir meu livro para o português.

As missões atuais são tão arriscadas quanto a missão Apolo? Havia mais romantismo?
Não era tão romântico assim. Antes de conseguirmos um lançamento de sucesso, perdemos de maneira trágica uma equipe de três astronautas devido a um incêndio dentro de um módulo que não conseguiu nem sair no chão.

Apesar disso, acho que as missões Apolo foram realizadas com margens de segurança significativas. As naves de hoje são máquinas enormes e é uma grande conquista conseguir levar com sucesso sete pessoas mais uma carga bastante pesada num só módulo. Infelizmente, a Nasa decidiu pela tecnologia de acoplar dois módulos juntos, um para a carga outro para os astronautas, o que acaba sendo muito mais caro.

O que o senhor acha do turismo espacial?
Acho que eleva o interesse público e a busca por informações sobre a exploração espacial. As pessoas que já participaram tiveram o privilégio de experimentar a aceleração de um foguete subindo para o espaço, enquanto se distanciavam da força da gravidade. Isso não tem preço.


JB Online
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