"Se o modelo de Nice proceder, então as antigas ideias sobre o cinturão de asteroides têm de estar erradas", diz Harold Levinson, cientista planetário no Instituto de Pesquisa Sudoeste, em Boulder, Colorado. Levison e seus colegas publicaram na revista Nature sua nova explicação sobre a origem do cinturão.
O cinturão de asteroides é uma faixa espacial com cerca de 176 milhões de km de extensão, entre as órbitas de Marte e Júpiter, que contêm milhões de objetos de diversas formas e tamanhos. "O surpreendente quanto a esses objetos é que eles demonstram ampla diversidade de composição química", diz Levison. No limite interno do cinturão, os asteroides parecem rochosos e calcinados, enquanto no limite externo ele abriga objetos gelados contendo água e moléculas orgânicas.
Local de crime planetário
Os astrônomos acreditavam que o cinturão de asteroides representasse os restos congelados do disco protoplanetário que um dia existiu em torno do Sol. A linha entre rocha e gelo, arrazoavam, era uma "linha da neve", para além da qual planetas grandes e gélidos podiam se formar.
Mas havia problemas quanto a essa interpretação, especialmente no que tange a Urano e Netuno, de acordo com Stuart Weidenschelling, pesquisador sênior no Instituto de Ciência Planetária de Tucson, Arizona, que não esteve envolvido na pesquisa. As distâncias nas quais esses planetas hoje orbitam, o disco protoplanetário estaria se movendo devagar demais para que eles pudessem se formar da forma devida.
E é aí que entra o modelo de Nice. O conceito, introduzido quatro anos atrás, dispõe que Urano e Netuno se tenham formado a cerca da metade da distância que os separa do Sol no momento. Para além deles, postula o modelo, havia um vasto disco de bolas de gelo semelhantes a cometas.
A formação não era estável, de acordo com Levinson, e "as órbitas realmente se descontrolaram". Júpiter se moveu para dentro, enquanto Saturno, Urano e Netuno se afastaram todos do centro do Sistema Solar. Ao fazê-lo, catapultaram corpos gélidos do disco protoplanetário inicial para o interior do Sistema Solar.
As novas simulações demonstram que uma fração desses terminaram ocupando órbitas estáveis em torno do limite externo do cinturão do asteróides, e que continuem nelas ainda hoje. Weidenschelling diz que os trabalhos mais recentes representam mais uma realização para o modelo de Nice, uma proposta relativamente recente. "É mais uma daquelas pecinhas de quebra-cabeça que parecem se encaixar", ele afirma.
Levison acredita que, se o modelo proceder, estudos detalhados sobre o cinturão de asteróides informarão aos astrônomos sobre a evolução inicial do Sistema Solar. "É como investigar o local de um crime", ele afirma. "A maneira pela qual o sangue está espalhado pelas paredes revela mais sobre aquilo que aconteceu do que o cadáver da vítima".
Tradução: Paulo Migliacci ME
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