terça-feira, 4 de novembro de 2008

Ex-astro de futebol americano quer criar jogo na Lua

O jogo se chamaria Float Ball. Combinaria elementos de basquete, futebol americano e do vídeo de Lionel Richie para "Dancing on the Ceiling", em um esporte fluido que levaria os jogadores a colidir contra obstáculos, paredes e adversários, enquanto conduzem bolas coloridas de diversas cores a qualquer dos extremos do campo de jogo, que seria instalado a bordo de um avião que propicie gravidade zero ou, possivelmente, na Lua. Um dia, se tudo der certo, um ginásio espacial para o esporte poderia ser construído. Em Marte.

"E há um bônus", disse o criador do jogo, Ken Harvey, a uma platéia atenta de engenheiros técnicos e cientistas da Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (Nasa), no Centro Espacial Goddard, em Maryland. "Se você agarrar uma pessoa que esteja carregando uma bola e atirar os dois por um aro, ganha ponto extra".

As analogias com o futebol americano parecem surgir facilmente. O Ken Harvey em questão é o famoso Ken Harvey, titular da camisa 57 do Washington Redskins por boa parte dos anos 90. Jogando na defesa, durante um período de não muito sucesso para o time, Harvey foi quatro vezes selecionado para o jogo das estrelas do futebol americano.

Agora aos 43 anos, ele não joga uma partida de futebol americano desde que abandonou a equipe durante a preparação para temporada de 1999. Este ano, ele aceitou um cargo entre os dirigentes do time, e serve, nas palavras da administração do Redskins, como "um recurso e assessor no desenvolvimento de iniciativas quanto à responsabilidade".

Harvey tem dois filhos perto da idade universitária, e decidiu aceitar o emprego fixo para manter as finanças em dia, enquanto dedica sua imaginação incansável a um projeto conceitual ao qual deu o nome de SpaceSportilization.

"Quando eu era jogador profissional, sempre trabalhei com afinco, e continuo a fazê-lo", ele afirma durante uma entrevista em uma sala dos fundos do centro espacial, decorada por um modelo de satélite caído em desuso. "Mas ocasionalmente é preciso acreditar no inacreditável".

Para Harvey, o trabalho duro incluiu deixar o segundo grau, um emprego em um restaurante de fast food e ascender em universidades de segunda linha antes de conseguir seu primeiro contrato como profissional do futebol americano, com o então Phoenix Cardinals.

Depois de sua passagem pelo Redskins, ele brevemente teve a chance de assinar um contrato milionário, mas sofreu lesões que resultaram em contratos bem menos lucrativos. Quando decidiu deixar o esporte, trocou um salário menos e menos generoso pelo mundo das sombras que aguarda os atletas profissionais quando se aposentam.

Trabalhando como palestrante, ele fez amizade com Allen Herbert, como ele membro da congregação na Grace Covenant Church, em Chantilly, Virgínia. Herbert, um consultor que estudou engenharia aerospacial na universidade, o encorajou a pensar em um emprego no turismo para lugares exóticos. Realmente exóticos.

Nos últimos anos, o setor espacial vem cada vez mais procurando inspiração e recursos junto à iniciativa privada. O Escritório de Transporte Espacial Comercial, parte da Administração Federal da Aviação (FAA), começou a emitir licenças para empresas que desejem operar vôos suborbitais, e uma delas, a Virgin Galactic, já recebeu mais de US$ 25 milhões em depósitos de mais de 250 futuros passageiros.

Ainda que se sentisse um pouco cético, Harvey conversou com Eric Anderson, criador da Space Adventures, uma empresa que já levou seis clientes pagantes à Estação Espacial Internacional.

O empresário diz que uma liga de Float Ball requereria duas décadas de reduções significativas nos custos das viagens espaciais. Enquanto isso, ele afirma, pensar grande não atrapalha, especialmente se as idéias vêm de um famoso jogador de futebol americano.

"Ken é meu amigo, e é um homem capaz de fazer com que as coisas aconteçam", diz Anderson. "Isso ajuda a animar as pessoas quanto ao espaço".

Por fim, o lado "Jornada das Estrelas" venceu e Harvey criou uma empresa com Herbert para desenvolver um filme futurista que mostra os futuros esportes do turismo espacial, especialmente o Float Ball. Ele vai discursar no Fórum Global de Tecnologia Espacial, no mês que vem em Abu Dhabi.

Ao chegar ao centro espacial, para a palestra que foi convidado a fazer pela Associação Nacional de Engenheiros Negros, ele atraiu a atenção de muita gente interessada em um autógrafo.

Quando chegou a hora de sua apresentação, Harvey desceu os degraus para um palco decorado com bandeiras. Corpulento e careca, usando um terno marrom, uma gravata listrada, sapatos marrons e braceletes prateados, ele se posicionou diante de uma tela que mostrava imagens pouco nítidas de tripulantes se exercitando na estação espacial.

A platéia, formada por 40 especialistas da Nasa, fez silêncio. Harvey mostrou diversas imagens, falou sobre os problemas da economia, as promessas do turismo espacial, as citações a esportes em trabalhos de ficção científica e precedentes como as bolas de golfe que Alan Shepard arremessou na Lua. Fez piadas, não economizou nas digressões e conquistou rapidamente a platéia.

"Vocês talvez achem a idéia absurda", afirmou Harvey. "Estou falando de esportes e complexos de entretenimento na Lua".

Conceitos avançados como um campeonato de Float Ball, ele argumentou, terminariam por se desenvolver com base nos programas de condicionamento de astronautas, jogos de realidade virtual, vôos em gravidade zero e esforços para inspirar as crianças de hoje com novos sonhos espaciais. "Às vezes sua geração não realiza o que você sonha, mas você planeja vê-lo na próxima geração".

O pessoal da Nasa depois perguntou como ele pretende ganhar dinheiro com o esporte espacial, algo que ele ainda não sabe. Da quinta fileira, Rosalyn Nelson, técnica em cobertores térmicos, perguntou de que maneira o público geral poderia bancar um esporte como o Float Ball. "Ótima, ótima pergunta", respondeu Harvey. "A próxima, por favor".

Tradução: Paulo Migliacci

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