sexta-feira, 8 de maio de 2009

Com formas inéditas, cratera de Mercúrio intriga cientistas

Chamada de bacia Rembrandt, a cratera surpreende mais por suas características geológicas internas do que pelo seu tamanho - seu diâmetro é igual à ...
Chamada de bacia Rembrandt, a cratera surpreende mais por suas características geológicas internas do que pelo seu tamanho - seu diâmetro é igual à distância entre Boston e Washington


Em outubro, num segundo vôo próximo ao planeta Mercúrio, a sonda espacial Messenger da NASA transmitiu 1,2 mil fotos, revelando 30% da superfície do planeta nunca antes vistos de perto. Entre as imagens estava a segunda maior cratera de Mercúrio, tão ampla quanto a distância entre Boston e Washington.

Chamada de bacia Rembrandt - por convenção, crateras de Mercúrio são batizadas com nomes de pintores, escritores, compositores e outros artistas criativos -, a cratera surpreende mais por suas características geológicas internas do que pelo seu tamanho, disseram cientistas planetários na semana passada.

Boa parte do terreno dentro da Rembrandt permanece imaculada desde a época do impacto, há 3,9 bilhões de anos, quase no fim do período de "bombardeio pesado" no nascente sistema solar. A bacia é jovem se comparada às mais antigas crateras formadas por impacto gigante do sistema solar.

"Na maioria das grandes bacias de impacto em Mercúrio, na Lua e nos outros planetas do sistema, o terreno está completamente enterrado pelo fluxo de erupções vulcânicas posteriores à formação da bacia", explicou Thomas R. Watters, cientista sênior do Centro para Estudos Terrestres e Planetários da Instituição Smithsonian, durante uma coletiva de imprensa da NASA na semana passada.

Os cientistas também divulgaram suas descobertas em artigos publicados na edição atual do periódico Science.

Na região central de Rembrandt, onde a lava chegou a fluir, o terreno se deformou em elevações e falhas que irradiam para fora - "diferente de qualquer padrão visto em outras bacias de impacto no sistema solar", disse Watters.

As elevações se formam quando a crosta planetária é comprimida, e as falhas quando a crosta é separada. Portanto, cientistas vão precisar criar uma explicação de como a crosta dentro da bacia Rembrandt foi tanto pressionada quanto afastada para formar elevações e falhas tão próximas.

Outra característica marcante é uma linha de precipício de 997,7 km que corta a cratera Rembrandt. A superfície de Mercúrio rachou à medida que seu interior esfriou e encolheu, e essa falha - talvez a mais longa dessas rachaduras - mostra que Mercúrio ainda estava encolhendo na época do impacto.

Mais globalmente, as imagens da Messenger indicam que planícies regulares, provavelmente lava endurecida, cobrem até 40% da superfície - em comparação, a lua da Terra tem 20%.

"Isso indica que o vulcanismo foi um processo realmente importante em Mercúrio", disse Brett Denevi, pesquisadora pós-doutoranda da Universidade Estadual do Arizona. "O que é bem excitante, porque antes dos vôos da Messenger sobre Mercúrio, só um ano e meio atrás, não tínhamos sequer certeza se havia vulcanismo em Mercúrio.

Ela disse que a comparação de diferentes terrenos sugere que, embora Mercúrio seja similar à Lua em aparência, seu histórico geológico parece ter sido mais semelhante ao de Marte.

Em um dos artigos, os cientistas relatam que detectaram magnésio pela primeira vez na tênue atmosfera de Mercúrio por meio de um instrumento da Messenger que coleta amostras de seu entorno. Como grande parte do "ar" de Mercúrio consiste de moléculas deslocadas da superfície, essa descoberta ajuda a confirmar a presença de magnésio na crosta, o que não é uma surpresa.

"O que é surpreendente é a distribuição do magnésio", disse William McClintock, do Laboratório para Física Atmosférica e Espacial da Universidade do Colorado, um co-investigador da missão.

Hidrogênio, hélio, sódio, cálcio e potássio já haviam sido detectados anteriormente. Cálcio e magnésio são similares quimicamente, e esperava-se que a distribuição dos dois elementos fosse semelhante. Ao invés disso, o cálcio se concentra próximo ao equador, enquanto a distribuição de magnésio é mais uniforme.

A Messenger vai fazer outro vôo sobre Mercúrio no dia 29 de setembro, antes de entrar na órbita do planeta em março de 2011.

Tradução: Amy Traduções

The New York Times

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